A TV interativa, assim como todas as mídias dependentes da participação do usuário, tem de lidar com a imponderabilidade da ação humana. Tal qual a internet, nada acontece com as aplicações interativas na TV se o usuário não tomar nenhuma atitude. Conforme discutido notexto anterior, a audiência da televisão tem posturas diferentes dos usuários da internet. Essas posturas interferem no tipo de conteúdo mais adequado a cada mídia.
Na televisão atual estamos acostumados a ficar assistindo à programação com pouca ação diante da TV. Podemos mudar de canal, regular o volume, enviar um SMS ou um e-mail para a emissora, desligar a TV. A emissora de televisão não tem como saber quando e se qualquer uma dessas ações vai ocorrer. O mesmo é válido para uma interatividade. É possível sinalizar que ela está disponível, mas não é possível obrigar a pessoa a interagir.
Dessa forma, além de determinar claramente o público-alvo do serviço ou da aplicação, é extremamente importante entender o que esse público espera de uma aplicação interativa, e caso não espere nada ou desconheça essa nova funcionalidade, o que o atraia à interatividade. Dentro da nova realidade da televisão, pode-se identificar quatro tipos de comportamentos diante da nova programação:
- Pessoas que vão querer continuar assistindo à TV da mesma forma como assistem hoje, sem interagir.
- Pessoas que não vão querer assistir a mais nenhum programa sem interatividade.
- Pessoas que ora vão interagir, ora vão preferir ficar passivas.
- Pessoas que vão apenas usar os novos recursos, sem sequer assistir à TV.
Esses quatro tipos de usuários demandam aplicações diferentes, com graus de interatividade também diferenciados. O primeiro grupo, que ainda precisa de convencimento para usar, demanda aplicações mais simples, que antes de se aprofundarem na informação precisam trazer o usuário à interatividade. Nesse caso, a linguagem que agregue a interatividade à programação tem grande importância.
Já para o segundo grupo, a qualidade das aplicações e a informação transmitida são mais pertinentes do que a linguagem usada para a interatividade. O desafio passa a ser oferecer programas concebidos em harmonia com a interatividade, onde haja disposição ordenada das informações e ações demandadas pelo usuário.
O maior problema é conceber aplicações para um público cujo comportamento é uma incógnita, e que no momento da transição da TV analógica para o modelo digital tende a ser a maioria dos usuários. Nesse caso corre-se o risco de oferecer aplicações muito simples para determinado público ou muito complexas para outro. É o mesmo desafio dos programas de TV aberta, onde a audiência é composta pelos mais variados segmentos sociais e culturais.
O último grupo, em tese, é o mais fácil de ser atendido, uma vez que as aplicações demandadas pelo público desinteressado na televisão se aproximam muito da internet. No entanto, trata-se de um público que assiste cada vez menos à televisão, preferindo usar a web. A interatividade, de certa forma, pode ser interpretada como uma possibilidade para trazer esse público de volta para a televisão.
Gerações mais novas, notadamente com menos de 25 anos, não têm mais paciência para ver programas de TV durante uma hora ou mais. Preferem algo mais ativo para se entreter. É onde entra a internet, ou as atividades chamadas multitarefa, onde o telespectador faz várias coisas além de ver TV.
Esse comportamento incerto do telespectador está previsto no middleware Ginga, que pode adaptar aplicações interativas para diferentes perfis de usuário e dispositivos de exibição (não apenas aparelhos de TV, mas também computadores e celulares). Para tanto, é necessário o uso de regras e variáveis para definir essa adaptação. As regras e variáveis serão tema do nosso próximo texto.
Aproveitando o ensejo, semana passada foi lançado o livro TV Digital.Br: Conceitos e Estudos sobre o ISDB-Tb (Editora Ateliê, R$ 38,00), organizado pelo professor Sebastião Squirra e por mim. A obra discute, de forma interdisciplinar, a introdução da TV digital no Brasil e as consequências para diferentes áreas do conhecimento. Apesar de já sair um pouco desatualizado devido à velocidade com que a evolução das tecnologias acontece, trata-se de uma boa referência para quem estiver interessado em compreender melhor os desdobramentos e impactos da digitalização da TV aberta brasileira.
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